sábado, 15 de dezembro de 2007

"Como num cinema me mandava as vezes uma rosa e um poema."

As coisas mudam e permanecem na mesma. O sentimento continua como secundário.
O santinho na mão, oração por oração, um terço, o terço.
A terça parte de seu coração se ia.
partia
do mais literal, o coração partia,
não lhe dava o devido valor.
rachava.

caiu.
ele levou, em meio as suas"brutezas"
levou.
caiu. rachou.

e ninguém nem percebeu.

As 12:30 atropelavam mais um em plena avenida norte.

sábado, 8 de dezembro de 2007

Latia suavemente, o que era e o que não era. Queria ser atriz, bailarina, bonita ou qualquer coisa assim, não era. Se atrevia ao ser a faxineira do almoxarifado da repartição abandonada. Recebia seu salário das mãos de uma máquina (acreditava), um dos robôs, (talvez), não sabia mexer, não havia o que mexer. Apenas dizia seu nome...

Robô estranho esse, tão humano, cabelos negros presos num perfeito e simétrico rabo de cavalo. Perfeita maquiagem. Até o robÔ lhe era mais do que o seu eu.

Gosto de guarda chuva na boca, um dia correu perdida na sua insignificancia, jogou todos os papeis da ultima estante do almoxarifado no chão. Que ousadia. Correu, correu até não poder mais e correu mais um pouco. Ousava correr, nunca havia corrido. Andava, corria, pela rua, agitada. A insolente ousava fugir...
- Volte para seu lugar secundário!

Correu mais... um carro passou, a estrela não brilha.

- Senhora, perdão, deseja alguma coisa?

- Um conhaque e uma nova alma por favor!

- Mais fraca?

- Mais forte, mais forte que tiver. A mais forte que temos!

- Mas e o equilíbrio?
- Nesta casa o equilíbrio permanece com a casca forte e a pérola sensível,
- Nesta casca há fungo.
- Fraca?
- Fraquíssima, vamos me traga o conhaque.
- Tome o uísque e o cigarro.

A fumaça, os olhos delineados, negros, com dois traços negros, a boca carmim...
- a alma...
- Não temos, não tenho!
- Trago já.

A fumaça tomava conta do ambiente, além da poltrona carmim e a bandeja de prata, nada possuía vida.
- Tamanho P, M ou G da sua alma?
- Ja lhe disse, traga uma GG.
- Não temos, não tenho.
- Não tenho, não temos.

Se perdia a cada minuto no que não podia ser, se olhava no espelho e enxergava a concha furada, a pérola mofada, o nada que era e que nem o nada podia ser.
Ela era o nada e até o nada a rejeitara.