segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Falta alguma coisa em seu rosto,
qualquer coisa meio vermelha ou preta, meio borrada.
Qualquer coisa meio frouxa, meio doida.
E então José? O que aconteceu esta noite?
As varias formas elementares, já não fazem sentido. A chuva cai a pingos grossos lá fora.
Cinco cigarros jazem ao chão.
A velha Eugênia furou e já não há furos para penetrar... O velho malboro levou tua voz e um pedaço do teu pulmão.
Pegou o casaco e andou sob a chuva, cada gota de estilete furou seu corpo. A velha Eugênia furada. O corpo... Levava as costas e já era muito, pesadas que eram. No bolso do casaco um furo e algum adesivo de nicotina repartido em seis. Na veia, metade de sí ou até menos.
Ah! E se nas palavras que uso, outras letras tomassem forma...
Aí quem sabe, falaríamos em poesia.

Minha última noite com a Puta.


Esta história não tem uma personagem. Não uma, e nem personagem.
Essa, não é a história de uma personagem. Nem é exatamente sobre ela (embora, tenha pretendido ser.)
Aliás, essa coisa de ser personagem e não ser é engraçada (e complicada).
A “ela” a qual me refiro sabe assim ser, com maestria. Em linhas e letras, mistura realidade e ficção. De tão fictícia, ousaram usá-la em outras linhas...
Falharam! É que ela era real demais.

Como de costume, o cenário é qualquer coisa que lembre um cabaré. A imagem central deve ser ela, a Puta. Eu não gostava de chamá-la assim. Sei que é assim que se chama tipos como o dela, e como ela mesma costumava se chamar. Mas eu.... Eu particularmente, nunca acreditei no “tipo” dela. Pra mim, a Puta, era mais do que aquele sexo desbocado e descomplicado... Ela era a Puta do café, das piadas e acima de tudo do carinho. Nunca fui o cliente Máster da Puta. Nunca freqüentei seus aposentos, suas músicas e seus “rocks”. Mas, aquela Puta; e aí, quando eu digo puta, quero dizer, ordinária, safada e outros adjetivos mais; me sabia ser tão rápido, o que outras demoraram tanto.

Foi com sua lembrança que naquela noite decidi encontrá-la de qualquer jeito. Andei por prostíbulos, bares, esquinas, comprei cigarros... Li anúncios, bebi cervejas... Não a encontrei em nenhum copo, em nenhum trago... Em nenhum disco

Já lá pelas tantas, encontrei-a sentada. Olhos marejados, blusa de manga, seios e pernas cobertos. DEFINITIVAMENTE NÃO ERA UMA PUTA. Era muito mais a menina indefesa que me cativara, com o cigarro na boca e o humor sempre prestes a me desafiar.

Sentei-me junto a ela e em silêncio permanecemos. Ela mergulhada em seu aparente abalo e eu revisando o péssimo dia que tive. Olhando agora, vejo que naquele silêncio deveriam ter ido as palavras mais claras de que eu verdadeiramente gostava daquela Puta. Que mesmo sendo o homem, freguês de suas histórias, nela, eu encontrava paz de amiga. Que por infinitas vezes quis pegá-la no colo e impedir de fazer besteira. Mas ficamos ali, parados, sentados e em silêncio...
E em nosso silêncio havia peso....
Mais tarde descobri o porque. Seus olhos marejados apontavam pra longe.
Esse longe que é longe e distante de nós.
Esse longe que é físico e triste.
Esse longe que mareja os olhos, aperta o coração e nos faz repensar em tudo que não mostramos.

Agora não adiantaria aparecer de surpresa, o café quente e o livro que não entreguei.... A Puta se ia.

Mergulhados em nosso silêncio, bebemos o silêncio e falamos o nosso silêncio. E foi nesse silêncio, bem ao seu melhor estilo de Puta, fez-me guardá-la em sua melhor imagem. Seu humor ácido das horas ruins nas boas.
- Com quem vou beber agora?
- Como vou levar os caras pra transar na minha casa?

Era aquela Puta a coisa mais engraçada. Adiei por algum tempo, assumir entender aquele olhar marejado e a presença daquele humor. Ri dos temores da Puta, assim como ela rira dos meus.

Naquele silêncio, me permitiu um abraço. Abraço apertado, de Puta pra puto, que é Puta. Naquele abraço, deixei passar o silêncio, na esperança de que entendesse o que significava aquele “te cuida”. Do quão carregado de amizade ele realmente estava, embora um pouco ingênuo.

Me dei praquela Puta tão facilmente que agora acho que ela era realmente uma Puta. Só uma Puta me seduziria daquela forma. Entrei no carro com o silêncio no peito e uma vontade enorme de transformá-la num personagem eterno merecedor de toda a minha amizade, que não é grande coisa, mas tem sinceridade.

A puta se foi. E eu não lhe dei o livro. Bebi pouquíssimo com ela e não lhe dei cigarro.
Mas transformei-a em mais um personagem, de letras e linhas, e folhas, pra que aquela Puta soubesse que sempre que voltasse estaria disposto a lhe dar o livro e os cigarros e que as cervejas sempre teriam a marca de seu batom vermelho.



Has someone taken your faith? It's real, the pain you feel Your trust? You must confess is someone getting the best, the best, the best, the best of you?

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Voltava com o banho de chuva.
Quatro anos depois.
Três cervejas depois.
Alguns cigarros depois.
Depois.
Cinza, cinza, cinza.
O peito o mesmo,
mas a escrita...
Ah essa... muito pior!